terça-feira, 12 de junho de 2012

Tarte tatin de alperces e o veredicto final



Os antigos explicaram muito bem essa pulsão, pulsão? Não deve ser pulsão, mas esse sentimento subliminar de os filhos quererem casar com as mães, as raparigas quererem casar com os pais. Não sei contudo se terão explicado o enlevo e protecção que se direcciona das mães para os filhos homens e dos pais para as filhas mulheres, se bem que estes últimos são mais fáceis de explicar, os anteriores carecem de explicação outra que não seja uma ciumeira desalmada daquela outra marmanja que vem roubar a atenção primeira e única que os meninos dedicam às suas mães, mesmo quando já são barbados e têm vidas independentes. E tudo isto é muito pior se a marmanja a quem o miúdo barbado entregou o coração e a gestão de meias e cuecas souber cozinhar. Foi o que me aconteceu. Não que o filho que não tenho se entregasse a uma galdéria com manias de chef. O filho da minha sogra é que se entregou a uma dessas com ar de quem não dá uma para a caixa mas que gosta de cozinhar. Custaram-me muitos anos, e quantos, e alguns cozinhados para que ela proferisse um Está bom! Devia ter assinalado esse dia no calendário e decretá-lo o meu próprio e pessoal feriado, uma verdadeira vitória que se não fosse por puro pudor teria pedido para repetir mais alto Como? Nos dias que correm lá vou conseguindo um sorriso e esporadicamente um elogio. Já o meu sogro é mais imediato e generoso nos comentários e tem um palato apurado. É um bom garfo e repara nos detalhes. Acontece portanto que sempre que cá vêm ou sempre que lá vamos não facilito nas iguarias e esta mania da perfeição que me assiste a espaços transforma-se no peso que, qual Atlas, transporto cozinha afora e cozinhados adentro. Desta vez e aproveitando a época dos alperces, provavelmente a melhor fruta do mundo, sou doida pela polpa carnuda, o sabor meio acre e a cor alaranjada, resolvi fazer uma tarte tatin de alperces. Éramos seis adultos à mesa e um adolescente. E esperei o veredicto. Três disseram que estava óptimo, três não disseram coisa nenhuma e outro não comeu. Quem terá dito o quê?

Tarte tatin de alperces

Ingredientes
125 g de açúcar
50 g de margarina
1 embalagem de massa folhada refrigerada
Alperces (deitei a olho, mas foram muitos)

Preparação
Pré-aquecer o forno a 180º. Retirar a massa folhada do frigorífico. Lavar os alperces, cortá-los a meio e retirar o caroço. Reservar. Numa frigideira ou forma redonda derreter a margarina com o açúcar quase até começar a caramelizar. Atenção que a partir de certo momento carameliza muito rápido e o caramelo pode ficar muito forte e amargo. Juntar os alperces e deixar cozinhar um pouco, mas não demasiado para não se desfazerem. Barrar ou pincelar os lados da frigideira ou da forma com margarina. Colocar a massa folhada por cima dos alperces e aconchegá-la na forma. Levar ao forno cerca de 20 minutos até a massa folhada ficar dourada. Retirar do forno e desenformar com firmeza. Se necessário reajustar os alperces na tarte.
A acidez dos alperces torna-se mais perceptível e contrasta na perfeição com a doçura do caramelo, indicado para quem gosta de sabores fortes e pouco recomendado para crianças. Não me desiludiu. Ver se não me esqueço de uma bela bola de gelado de baunilha para a próxima.



terça-feira, 5 de junho de 2012

Cookies de chocolate e a festa derradeira

Era baixo, louro, adorava futebol, era tímido e discreto, provavelmente o mais velho da turma mas terá sido ele que algures perto do Natal sugeriu que se fizesse uma festa. Aproveitei a ocasião para os apresentar aos costumes gatronómicos alemães em tempo de Natal e não correu mal. Nessa festa houve Lebkuchen, Spekulatius de canela e umas Stollen pequenas, a única iguaria alemã que cá chega. Trouxe para a casa os Lebkuchen. Ainda os havia por cá quase um ano depois mas dos Spekulatius nem migalha. Aprovados. 
Depois desse dia de Dezembro tardio e frio, em que, desconfiada, achei que não haveria festa nenhuma e que os alunos presentemente não ligavam a festas que envolvessem aulas e professores, instituiu-se, para meu grande espanto, na minha turma de Alemão, a festa de final de período. E assim foi durante estes dois últimos anos.
Uns dias antes, às vezes na véspera, surge a pergunta sacramental, uma semi afirmação à espera da minha confirmação Então e a nossa festa? Stora, temos de fazer a nossa festa! Chegado o dia, cada um traz o que tem ou o que se lembrou, às vezes quotizam-se para comprar bebidas e outras trazem bolos caseiros feitos por elas. Acontece que este ano em vez de ir a correr comprar tudo pronto a comer, abalancei-me a fazer-lhes uns cookies de chocolate. A primeira vez adoraram, a segunda idem e hoje quando lhes perguntei Então e amanhã, querem outros biscoitos ou faço os de chocolate? A resposta não podia ser mais convicta: Não, stora, os de chocolate! Sorrisos largos com a leveza de quem tem o mundo pela frente. Largaram uns comentários elogiosos aos pequenos rochedos de chocolate e foram-se com a urgência de quem tem o mundo à espera. Num bocado de tarde entre uma e outra tarefa profissional, adentrei a cozinha e fiz os tão desejados cookies de chocolate para mais uma festa, desta vez a derradeira. Amanhã é a última aula. Terão sido por isso os últimos que lhes fiz e amanhã estarei forte como sempre me conheceram: de aparência robusta como os meus cookies de chocolate e no meio suave e frágil, como eles também. Também somos o que cozinhamos. Quando tiverem saído apanharei silenciosa as minhas próprias migalhas.

Cookies de chocolate

Ingredientes
250 g de farinha com fermento
90 g de chocolate em pó
1 colher de sopa de fermento
100 g de açúcar
100 g de flocos de aveia.
200 g de margarina
1 ovo
100 g de chocolate culinário

Preparação
Pré-aquecer o forno a 180º. Derreter a margarina e deixar arrefecer um pouco. Misturar os ingredientes secos numa tigela larga. Adicionar a margarina derretida e envolver bem. Juntar por fim o ovo inteiro e o chocolate cortado em pedaços pequenos. Fazer bolinhas pequenas e levá-las o forno num tabuleiro forrado com papel vegetal cerca de 15 minutos.




sábado, 2 de junho de 2012

Biscotti de avelãs e limão e os caminhos do amor


Se há coisa que faço mal é cortar pão. Por muito que me esforce, tal como confessado aqui, sou incapaz de cortar uma fatia de pão como deve ser. Sai sempre mais grossa no final do que no início ou vice-versa, às vezes com um recortado que nem sei muito bem como consegui e outras com um pedaço a mais ou a menos. Peçam-me outras coisas que serão feitas com mais perfeição mas caso ousem pedir-me essa tarefa tão mundana e aparentemente tão simples saibam que correm o risco de sair algo parecido com uma fatia de pão mas jamais uma fatia de pão direita e perfeita. Na verdade esta falta de jeito também me assiste no que ao pão-de-ló diz respeito e a outros bolos assim fofos.  Nada a fazer portanto. Nem eu sei explicar o que corre mal mas se puder correr mal certamente correrá, a lei de Murphy aplicada à minha total incompetência em cortar uma simples fatia de pão.
Quando esta semana a proposta do grupo Dorie às Sextas me surpreendeu com uns Biscotti de Amêndoa, e depois de lido e escalpelizado o modo de confecção, eis que se me colocava o desafio dos desafios: os danados dos biscotti, além de irem duas vezes ao forno, daí o nome biscotti e de engordarem, já se sabe, tinham de ser cortados, valha-me Zeus e Gargântua, cortados como se corta pão, com faca de serrilha e o rigor que se deve dar a tudo o que se quer belo para ser apetitoso. Os olhos comem, ó se comem.
 E enquanto estava aqui nesta conversa, sinto o alerta das gatas, de orelhas perfiladas e olhar concentrado, e ouço a chave na porta. Era ele. Só podia. Só podia ser o meu consorte. Estou safa, pensei. Nada disto teria interesse caso não fosse ele, ao contrário de mim, um mestre na arte de bem cortar pão. Disse-lhe Preciso da tua ajuda. Ele entra na cozinha, olha para os dois troncos que haviam de se de transformar em biscotti com desconfiança. Ninguém diria que daqueles pedaços de massa informe e de tonalidades esbranquiçadas sairia algo agradável. Explico-lhe o procedimento e ele supervisiona a tarefa, dando-me conselhos e dicas. Eu sabia que estava safa. O amor faz milagres, já se sabe. Até nos meus biscotti de avelãs e limão. 

Biscotti de avelãs e limão

Ingredientes
A escolha dos ingredientes obedeceu ao critério único do que havia disponível cá em casa. Não havia farinha de milho, mas havia farinha de trigo. Não havia amêndoas, mas havia avelãs. Não havia essências de coisa nenhuma, nunca há cá em casa, mas havia uns enormes e voluptuosos limões vindos directamente com todo o carinho do limoeiro dos vizinhos e que esperavam o momento certo para mostrar do que são feitos limões saloios, região por excelência de limoeiros frondosos e exuberantes, orgânicos e tratados com a calmaria do campo.

1 chávena de açúcar
2 chávenas de farinha de trigo com fermento
1 chávena mal cheia de gérmen de trigo
100 g de margarina
3 ovos
¾ de chávena de avelãs
Raspa de dois limões.

Preparação
Ligar o forno a 175º. Derreter levemente a margarina. Numa tigela larga deitar o açúcar e a raspa de dois limões. Com uma espátula misturar o açúcar e a raspa de limão. Juntar a margarina morna e bater com a batedeira até ficar um creme esbranquiçado. Adicionar os ovos um a um e, por fim, deitar a farinha de trigo, depois o gérmen de trigo. O gérmen de trigo foi uma solução de recurso porque a massa estava demasiado mole para ser moldada. Com uma espátula envolver as avelãs.
Num tabuleiro de forno e sobre uma folha de papel vegetal dividir a massa em dois rectângulos longos mas estreitos. Levar ao forno durante cerca de 15 minutos. O tempo de cozedura é muito importante. A massa não deve ficar demasiado cozida. Retirar do forno, colocar sobre uma outra superfície, usei uma simples tábua de cozinha, e esperar uns vinte minutos, até ficar quase frio. Cortar em fatias e levar ao forno mais 15 minutos. 


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Biscotti Teaser


Mais um desafio do Dorie às Sextas. Não estão tão lindinhos? Receita e texto seguem amanhã.